Um dia tudo passa. Pode demorar pouco, muito, mais ou menos. Mas eventualmente tudo passa. Quando me lembro das pessoas que conheci ao longo desses anos irregulares, sempre penso estarem felizes; passaram. De muitos não recordo mais os nomes, apenas traços e algumas cores, como num sonho. Creio que deitei para cochilar e acordei sem lembrar das particularidades, dos detalhes. Um dia eu estava arrumando a bagagem, dobrava roupas, escolhia objetos – hoje a mala nem serve mais; molhou, secou, estragou. As paisagens nunca desapareceram, deve-se carregar mais histórias que peso, porém às vezes é difícil entender o fardo e a consciência.
Datas se misturam e o peso nos olhos me faz debruçar na mesa e o relógio para. Ouço um carro passar longe, logo lembro novamente que tudo passa. Cruzo as pernas, ponho os braços já cruzados sobre elas, dedos entrelaçados. Silêncio. Há muito havia alguém comigo numa praça – hoje, minhas mãos nada seguram. Bancos, estátuas, árvores, outras mãos e risos passaram. Uma outra vez havia música, tocava pelo Antigo da cidade e ecoava pelas paredes dos vários bares. Era sempre tarde da noite, a madrugada passava entre luzes e sombras. E como todas as coisas precisam de equilíbrio, agora abri a porta para a luz adentrar o vão que o amargo das palavras deixou.
“Down to the Wire is a track that unveils itself, like following a golden thread into a labyrinth of emotions. Its gloomy, dark start slowly gives way for hopeful strings and impending clear skies, while Charlotte Truman lends her mellow voice to verses of hope and motivation. ‘No, we’re not weak, just uninspired in this mess,’ she sings, mindful of how easy it is to blame ourselves when facing life’s dead ends and crooked paths.
Raising awareness to self-blame and resignation, Hybrid transforms this struggle into something new. By mixing beats and synths, the once melancholic track suddenly explodes in drum and bass euphoria. It signals the way out, the burning fire, the light of the fearless who dares to try. By not wanting to live like a bird on a wire, they open the possibility of flying.”
É como num outro dia em que um passageiro entrou no ônibus, trazia consigo uma mochila grande, sentou num dos assentos vazios e pôs sua mochila no colo. Ele usava boné que mal fazia aparecer seus olhos ou para onde olhava da janela, em seguida encostou-se e começou a cantar uma canção que parecia familiar, mas o nome não vinha à mente. Ninguém contestou, a música soava triste, entretanto acolhedora. Logo, a viagem que era de um se transformou no destino de todos.
Shadow of the Fearless é um nome imponente para um álbum e, ao ouvi-lo, pude compreender as muitas atmosferas de tensão, intimismo e inquietações pelo decorrer de cada faixa. Uma grande orquestra de emoções sentidas nitidamente, embora eu sempre me faça vagar e me perder nos acordes de Down to the Wire. Como no caso do passageiro anônimo do ônibus, em que algumas sílabas escapavam pela janela, o sentimento é de angústia, sonho e fuga. Certas coisas passam, outras suavemente rastejam para o íntimo – e esse é o caso de mais um belo trabalho entregue por Hybrid.
Vim do além pra dizer que esse post é perfeito e precisa ser devidamente aclamado ❤ vocês são maravilhosas!
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