Quando eu estava preparando o texto sobre “On”, BTS havia acabado de lançar seu videoclipe oficial para a faixa “Black Swan”. Mas não tem problema, pois as canções estão interligadas. A essa altura, imagino que muitos já foram apresentados ao conceito do psiquiatra suíço Carl Jung, uma vez que o processo criativo de “Black Swan” e “On” está calcado no mesmo. Desse modo, a “sombra” é mencionada várias vezes em ambas as músicas, ou seja, traços de nossas personalidades que escondemos no inconsciente por serem avaliados como indesejáveis tanto para nós quanto para quem nos cerca: o “monstro” escondido dentro de cada um.
“Black Swan” retrata exatamente o doloroso processo de individuação, já que “o inconsciente é povoado com estas criações mentais ali reprimidas, e sem a limpeza constante deste conteúdo mental, é impossível o Homem ser livre, pois o fato de não pertencer à esfera da consciência não significa que a sombra deixe de influenciar as atitudes humanas”. E um exemplo é este trecho:
“Heartbeat racing in my ears
Bump, bump, bump
Eyes wide open into my forest
Jump, jump, jump
No song affects me anymore
Crying out a silent cry.”
Para lidar com sentimentos e emoções a fim de compreender nossas contradições, o esforço pode ser maior para uns que para outros. Pessoas diferentes enxergam coisas diferentes, e um fato curioso é que a cantora Rihanna já havia abordado tal tema em “What Now“, basta ater-se à letra que naturalmente as outras camadas serão perceptíveis. Existem muitos outros exemplos de músicas em ampla variedade de artistas, porém, voltemos a BTS e “On”.
“On” percorre entre os dois mundos, inconsciente e consciente. “Jung afirma que existem duas ‘atitudes’ opostas, conhecidas como extroversão e introversão: cada indivíduo parece dividir sua energia entre o mundo externo e interno, em diferentes escalas”. Em conclusão, a batalha com a “sombra” é o resultado da compreensão das emoções conflitantes e aceitação do obscuro proeminente que carregamos ao longo da vida, como aponta este trecho:
“Where my pain lies
Let me take a breath
My everythin’
My blood and tears
Got no fears
I’m singin’ ohhhhh
Oh I’m takin’ over
You should know yeah
Can’t hold me down ‘cuz you know I’m a fighter
Choosing to descend into the dark abyss
Find me and I’m gonna bleed with ya.”
Por fim, as letras conversam comigo em nível pessoal. Tratando especificamente de “On”: a música é levada numa bateria com muitos arranjos rítmicos, as camadas melódicas são mais tímidas. A seção em que Jungkook canta brinca com o retorno acústico, ao mesmo tempo em que o órgão é elevado para trazer a famosa dissonância; ou seja, é proposital e causa uma resposta sentimental e positiva. Por outro lado, “Black Swan” é movida por belos arranjos de cordas que acarretam em melancolia. Também é interessante notar a rejeição por parte de críticos e músicos, endireitando-se em suas respectivas cadeiras enquanto desdenham dessas duas músicas em questão. Cômico e trágico.
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Material de consulta:
A Sombra na Psicologia, InfoEscola
6 reflexões para entender o pensamento de Carl Jung, Revista Galileu.