Burn It, Agust D e simbologias

“Eu vejo as cinzas caindo da sua janela
Há alguém no espelho que você não conhece
E tudo estava errado
Então queime até que tudo desapareça.”

O psiquiatra suíço Carl Jung via o Ouroboros como um arquétipo e a mandala básica da alquimia. Jung também definiu a relação do Ouroboros com a alquimia. Os alquimistas, que, à sua maneira, sabiam mais sobre a natureza do processo de individuação do que os modernos, expressaram esse paradoxo através do símbolo de Ouroboros, a cobra que come o próprio rabo. Diz-se que o Ouroboros tem um significado de infinito ou totalidade. Na imagem milenar do Ouroboros reside o pensamento de devorar-se e transformar-se em um processo circulatório, pois ficou claro para os alquimistas mais astutos que a matéria prima da arte era o próprio homem.

O Ouroboros é um símbolo dramático para a integração e assimilação do oposto, ou seja, da sombra. Esse processo de efeito retroativo é ao mesmo tempo um símbolo de imortalidade, uma vez que é dito do Ouroboros que ele se mata e se dá vida, se fertiliza e dá à luz a si mesmo. Ele simboliza Aquele que procede do choque de opostos e, portanto, constitui o segredo da matéria prima que inquestionavelmente deriva do inconsciente do homem.

Eis um texto que fala da cobra Ouroboros, como retratado em certas tumbas egípcias. No túmulo de Seti, o Primeiro, por exemplo, há um desenho de uma casa com duas esfinges do lado de fora, que é uma espécie de representação esquemática do submundo, onde ocorre a ressurreição do deus do sol. Pouco antes de sua ressurreição, o deus do sol é representado como um homem ictifálico deitado de costas com falo ereto e ao seu redor está a cobra que come o próprio rabo. A inscrição diz apenas: “Este é o cadáver”.

Vocês veem, então, que no submundo, quando o deus do sol alcançou o momento em que a morte e a ressurreição se encontram, quando ele está em sua tumba nas profundezas do submundo, ele é representado como cercado por esta cobra. Segundo o texto egípcio, a cobra que come o próprio rabo é considerada a guardiã do submundo e provavelmente é essa cobra que é invocada aqui. Portanto, em síntese, Ouroboros é frequentemente interpretado como um símbolo da eterna renovação cíclica ou um ciclo de vida, morte e renascimento.

“Coloque fogo nisso, coloque fogo nisso
Seja o que for, sim, queime isso, seu bastardo
O você do passado, o você do presente
Tudo está bem, então, queime isso, seu bastardo
Isso se tornará o Sol escaldante
Ou cinzas que permanecem
A qualquer momento, a escolha e a decisão são suas
Espero que você não esqueça que desistir decisivamente também conta como coragem.”

Além do “Sol escaldante” aludir ao deus do sol, por toda a letra pode-se observar “ciclos de renovação”, renascimento. Com a ênfase de que é preciso ter coragem para alcançar o “renascimento”, um novo ciclo. No mais, “Burn It” é de longe minha faixa preferida, mas isso não quer dizer que a Mixtape D-2 está aquém em qualidade. Surpreendeu-me bastante, exceto a última música, “Dear My Friend”, que considerei dispensável.

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Material de consulta:
Alchemy: An Introduction to the Symbolism and the
Psychology Studies in Jungian Psychology (Franz, Marie-Louise von, 1980).

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