Antifragile, Le Sserafim e o que é música

Então, quais são as novas? As latino-coreanas do Le Sserafim lançaram recentemente novo EP com o single “Antifragile”, porém, antes de prosseguir, a tia foi se inteirar na Wikipédia. E, olha só, agora entendo o burburinho da blogosfera e maior partes das pessoas por trás do grupo: existem duas integrantes que participaram e formaram o grupo temporário IZ*ONE, sim, através daquele reality (Produce: insira número) que manipula até vossas almas, mas mesmo assim vocês assistem e amam.

Além do caso de bullying envolvendo agora a ex-integrante Kim Garam – e aqui vem um travessão, pois não é dando uma “punição exemplar” em adolescente de 16 anos de idade que algo vai mudar. Agora venham com a Tia Carla Comunista (TCC); o problema é a estrutura, o problema é a indústria que fomenta esse ciclo parasitário (e a indústria é formada pela classe dominante). Isso posto, não é surpresa que integrantes estejam estreando no K-Pop cada vez mais jovens, pois quanto mais jovem mais fácil é de mergulhar meritocracia e afins na cabeça deles. Dessa forma, a classe dominante se isenta de responsabilidades e faz o que sempre fez: culpabiliza o “indivíduo problemático” e depois descarta o produto (pessoa). Pronto, todos felizes e vida que segue? Não. As velhas engrenagens apenas voltam a rodar como antes. Spoiler: os casos de bullying irão continuar acontecendo em todos os lugares onde já aconteciam.

Em relação à música, “Antifragile” abraça o ritmo do dembow, que já é tão característico do Reggaeton, e faz funcionar muito bem com repetições silábicas e outras texturas de acompanhamento. Então, não deve ser difícil achar críticos especializados, músicos e professores descrevendo a faixa como “repetitiva, simples e pobre”, por exemplo. Isso se deve ao famigerado etnocentrismo e eurocentrismo calcados no período do Classicismo. Enquanto Escola Literária, ainda prefiro ao Romantismo, contudo o Classicismo como movimento cultural já deveria estar obsoleto. Só que observando a História, vocês irão achar um tanto curioso o porquê de a música clássica ter sido a escolhida para estabelecer critérios arbitrários, diga-se de passagem, sobre o que seria boa música e música ruim. Não vou deixar ninguém na curiosidade: foi a classe dominante da época que estabeleceu isso.

Convenhamos, é até ridículo pensar que Grécia e Roma arquitetaram todas as civilizações do mundo. O propósito sempre foi muito claro: difundir a ideia de que arte e música clássica estão sempre num patamar acima, deixando subentendido que qualquer outra expressão artística é inferior. Como se antes do Classicismo não existisse nada além de homens das cavernas tentando acender uma fogueira. Para além disso, seria interessante perguntar o que é música a esses “doutores” e pedir com gentileza que evitem iniciar a resposta com “de acordo com”. Pois bem, como ninguém vai conseguir explicar objetivamente o que é música de fato, o correto seria responder “gosto pessoal”. Conheço um que definiu música da América Latina como “lixo latino”, então, sejam pessoas sensatas e não queiram se sentir superiores às outras pessoas a todo custo do racismo. TCC, até a próxima!

Publicidade

2 comentários em “Antifragile, Le Sserafim e o que é música

  1. Excelentes reflexões, como sempre!

    A relação entre dominação e cultura/arte vem de muito tempo, e continua pertinente (e provavelmente continuará pertinente por muitas décadas, ainda), onde o que é produzido pelas elites é visto como “elevado” e o que vem das periferias é “vulgar”. Ironicamente, muito do que hoje é consumido pelas classes altas teve suas origens exatamente entre as classes mais desfavorecidas e com o tempo foi apropriado por quem tinha o poder.

    A discussão sobre a estrutura que perpetua o bullying também é interessante e necessária. A esse assunto, acrescento outro ponto: na ânsia de punir casos de bullying para desincentivar essas práticas (o que, como você bem apontou, não está dando certo), vê-se pouco cuidado da sociedade (especialmente nesses casos envolvendo idols) na hora de apurar exatamente o que aconteceu. Como resultado, temos visto frequentemente idols sendo punidos e perdendo seus empregos por casos de bullying cometidos no passado depois de haver uma grande comoção popular em cima desses casos… pra, tempos depois, surgirem evidências mostrando que as coisas não aconteceram da forma como a suposta vítima havia relatado.

    Sim, bullying é um assunto sério que pode acabar com vidas… mas a destruição de reputação por julgamentos apressados e irresponsáveis, também (vide o caso Escola Base). E depois de vários casos em que o público acabou com a carreira de grupos inteiros por acusações que depois vieram a ser desmentidas (casos do T-ARA, do AOA, e por aí vai), era de se esperar que as pessoas fossem ter um pouco mais de cuidado e de responsabilidade para olhar quando outra acusação surgisse (o próprio caso da Kim Garam, pelo que vi, mostrou não ser tão simples como parecia quando ela se pronunciou – depois da demissão – reconhecendo que perseguiu a menina que a acusou mas apontando que essa perseguição veio após a menina em questão ter intencionalmente exposto imagens íntimas de uma amiga dela), mas parece que ainda vai demorar muito tempo até eles aprenderem.

    1. Esse lance do bullying é frustrante porque ninguém tem intenção de resolver. O negócio é “jogar pra galera” e se isentar de responsabilidades. A população, já tão despolitizada, vai apontar pra uma pessoa e não pra raiz do problema. Mas é isso, despolitizar e personalizar um problema institucional/estrutural faz parte da cartilha burguesa.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s