Olá. Sou eu, Carla. A nômade, a verdadeira desafiadora do desconhecido. Não sei ao certo como vim parar aqui, ou mesmo a localização exata. Penando melhor após uma breve pausa, lembro-me de Navios mercantes. Aqui faz muito calor e não vejo árvores para me abrigar neste mar deserto, de areia fina e pedregulhos hostis. Então caminhei. Caminhei até chegar numa espécie de construção abandonada. Lá encontrei pessoas, pessoas diferentes com trajes diferentes falando numa língua que eu não compreendia. Todas mulheres. Havia uma única que conseguia me entender, perguntou gentilmente o que eu fazia ali, se estava perdida. Como minha mente ainda estava confusa, apenas mencionei um Navio mercante. A mulher sorriu e disse que certamente foram os romanos que haviam me trazido até ali.
Categoria: História
Orishas: de raízes ao valor da música inestimável
O que faz uma música ser música? Saber tocar, saber escrever, ter alma, tocar o coração? E se, neste caso, tivermos tudo isso em algo chamado raízes? Poder contar a história de sua terra natal carregando uma bagagem imensa de cultura e musicalidade, com orgulho e de cabeça erguida. Orishas é tudo isso. Um grupo de Hip Hop cubano de Havana, Cuba, fundado em 1999. Pioneiro no gênero em seu país, Orishas também carrega em seu nome a referência direta (Orixás) ao conjunto de divindades cultuadas nas religiões de base africana nas Américas, como a santería em Cuba e o candomblé no Brasil, decorrentes da realocação de escravos iorubás.
Womxnly, Jolin Tsai e Yeh Yung-chih
Dia desses sonhei com uma flor, não sabia que tipo, mas, em seguida, ela tomou forma de uma pessoa; tinha olhos opacos, de porcelana. Apesar de não saber identificar quem era, a forma de luz rosada veio ao meu encontro e me abraçou – o abraço me embalou num gesto de carinho e conforto. Partiu assim que os primeiros raios de sol tocaram meu rosto. E assim, como quem pensa em música todo o tempo, lembrei-me de “Womxnly”, canção da artista taiwanesa Jolin Tsai.
A história por trás da letra se trata duma homenagem dobrada dentro dum lembrete. “Na manhã de 20 de abril de 2000, Yeh Yung-chih (葉永 鋕) pediu a seu professor para ir ao banheiro antes do término da aula. Alguns minutos depois, seu corpo sem vida fora encontrado no chão do banheiro em uma poça de sangue. Ele tinha apenas 15 anos.”
Burn It, Agust D e simbologias
“Eu vejo as cinzas caindo da sua janela
Há alguém no espelho que você não conhece
E tudo estava errado
Então queime até que tudo desapareça.”
O psiquiatra suíço Carl Jung via o Ouroboros como um arquétipo e a mandala básica da alquimia. Jung também definiu a relação do Ouroboros com a alquimia. Os alquimistas, que, à sua maneira, sabiam mais sobre a natureza do processo de individuação do que os modernos, expressaram esse paradoxo através do símbolo de Ouroboros, a cobra que come o próprio rabo. Diz-se que o Ouroboros tem um significado de infinito ou totalidade. Na imagem milenar do Ouroboros reside o pensamento de devorar-se e transformar-se em um processo circulatório, pois ficou claro para os alquimistas mais astutos que a matéria prima da arte era o próprio homem.
O Ouroboros é um símbolo dramático para a integração e assimilação do oposto, ou seja, da sombra. Esse processo de efeito retroativo é ao mesmo tempo um símbolo de imortalidade, uma vez que é dito do Ouroboros que ele se mata e se dá vida, se fertiliza e dá à luz a si mesmo. Ele simboliza Aquele que procede do choque de opostos e, portanto, constitui o segredo da matéria prima que inquestionavelmente deriva do inconsciente do homem.
Batuka, Madonna e origens
Madonna lançou recentemente o videoclipe para a música “Batuka”, com participação da Orquestra Batukadeiras oriunda de Portugal. Sua mensagem assombrosa e inspiradora surge nos primeiros segundos do vídeo:
“Batuque é um estilo de música criado por mulheres originárias de Cabo Verde, alguns dizem que seria o local de nascimento do tráfico de escravos.”
“Os tambores foram condenados pela Igreja e tirados dos escravos porque foram considerados um ato de rebelião. As mulheres continuaram cantando e dançando, e o Batuque vive até hoje.”
30 anos de Akira e conflitos de culturas
Em 1993, o crítico japonês Ueno Toshiya fez uma visita à cidade de Sarajevo na Sérvia devastada pela guerra. Vagando pela cidade bombardeada, ele encontrou uma visão inesperada. No meio da cidade velha havia uma parede desmoronando com três painéis. No primeiro foi tirada uma foto de Mao Zedong com orelhas de Mickey Mouse; o segundo tinha um slogan para o grupo de libertação de Chippas, os zapatistas, estampados nele. Mas quando ele chegou ao terceiro, ele estava “sem palavras”. Incrivelmente, foi um grande painel de uma cena do Akira de Katsuhiro Ôtomo. Contra as paredes desmoronadas do grupo de edifícios em colapso que o “poderoso delinquente juvenil” Kaneda estava dizendo, “Então começou!”
O parágrafo acima é tão simbólico quanto o impacto do filme de animação japonesa Akira não só para a cultura do país nipônico, mas também como definiria posteriormente o gênero de ficção científica ao redor do mundo. Como estamos na semana de comemoração de 30 anos do lançamento de Akira (1988), é importante salientar que na época a animação era geralmente considerada uma arte menor, algo para crianças, ou, talvez, o ocasional filme abstrato de arte – a animação do Japão era marginalizada ainda mais. Aos olhos do ocidente, a ideia de animações sofisticadas com estórias complexas era tida com desdém, e o painel que fora desenhado num muro de Sarajevo como ícone de resistência política agora toma traços mais fortes do que seria um abismo entre diferentes culturas.
Passado e presente, um retrato amargo da música pop sul-coreana
A música popular coreana “Kayo”, ou música pop, inclui baladas, chanson e, o mais importante, t’ŭrot’ŭ – “Trot”, que eram caracteristicamente importações ocidentais provenientes do Japão durante o período colonial ou bases militares dos E.U.A durante e após a Guerra da Coreia (1950 – 1953).
A percepção geral dos coreanos sobre artistas Kayo e a indústria da música pop em geral foi dominada por imagens vulgares de agentes gangster, banquetes noturnos frequentes e escândalos sexuais entre cantoras e ditadores militares – suborno a compositores, DJs de rádio e produtores de televisão, as condições socioeconômicas sombrias de cantoras e bandas – abuso sexual e outras explorações física e emocional de cantoras por seus empresários. Isso não significa que os coreanos não adotassem as músicas Kayo. Pelo contrário, a maioria dos coreanos adorava ouvir as músicas de Lee, Cho, Na, Nam e outros, mesmo sabendo que as vidas dessas cantoras eram menos que idílicas.
Continuar lendo “Passado e presente, um retrato amargo da música pop sul-coreana”
Tokyo Idols, AKB48 e a imersão de culturas controversas
A estreia do reality show “Produce 48”, que será exibido através de uma grande emissora sul-coreana, se aproxima. Contando com participantes japonesas e sul-coreanas, a oportunidade de diminuir a tensão entre os dois países na realização desse projeto é algo que vem bem a calhar, à medida que recentes notícias também apontam uma maior aproximação entre Coreia do Sul e Coreia do Norte. Dito isso, a maior crítica tem sido feita pela escolha do grupo japonês AKB48, que é cercado de controvérsias. Embora eu não tenha afinidade com o grupo, me foi sugerido o documentário “Tokyo Idols” (2017) – e que agora recomendo fortemente, pois é bastante esclarecedor sobre tudo o que envolve essa indústria em particular.
Continuando com meus “ensaios”, trago-lhes mais um pouco de contexto histórico sobre o assunto – o Japão possui uma cultura muito rica e ler sobre sua história e sociedade é realmente fascinante. Analisar esse espectro de fãs chamados “otakus”, assim como suas “musas”, pode vir a ser uma experiência desconfortável para alguns, então ao invés de revelar diversas partes da trama, penso que os pontos que irei abordar abaixo vos ajudem a digerir mais facilmente “Tokyo Idols” – e, por conseguinte, também entender como esse fenômeno surgiu. Pois bem, vamos lá!
Continuar lendo “Tokyo Idols, AKB48 e a imersão de culturas controversas”
Stray Kids e a juventude sul-coreana
Stray Kids retornou com “District 9”, novo single que encabeça o agora álbum de estreia oficial do grupo, intitulado “I am NOT”. Minhas expectativas em relação ao EP “Mixtape” já haviam subido muito, uma vez que eu sentia falta a respeito de um grupo no K-Pop trazer fusões do Hip Hop, Rock e música eletrônica – aspectos similares em bandas como Linkin Park e Deftones. Entretanto, friso mais uma vez, estamos tratando de um grupo pop.
Apesar de algumas letras do álbum de estreia “I am NOT”, bem como o novo single “District 9” pincelarem no que pode se encaixar em “reflexão social”, não se pode esperar uma crítica tão aprofundada sobre tópicos demasiados complexos. Como a oportunidade e o assunto vieram a calhar, estou prosseguindo com meus “ensaios” – tendo a proposta de buscar mais contexto sobre tais assuntos. Então, vamos lá!
Honey Popcorn, pornografia e uma troca de culturas
Faz três dias que o grupo Honey Popcorn, composto por três atrizes japonesas de filmes adultos, lançou seu primeiro clipe oficial “Bibidi Babidi Boo” acompanhado de divulgações em programas televisivos na Coreia do Sul. Não demorou muito para alguns sul-coreanos se manifestarem contra a presença do trio em seu país, levando a criar até uma petição endereçada ao governo, e uma das alegações seria “… elas serão assediadas com a tag #formerAVactressgroup (grupo de ex-atrizes de filmes adultos), que obviamente levará a comentários de ódio e assédio sexual”.
Não só esse trecho que parafraseei traz uma grande desonestidade, como também configura dano moral às japonesas em questão – presumir possíveis eventos futuros baseando apenas no antigo trabalho de alguém, e assim declarar abertamente que irá perseguir essa pessoa por “tags” na internet é uma conduta injustificável por si só. Como usei a palavra “trabalho”, então nada mais justo que trazer o contexto sobre prostituição na história do Japão. Seguem trechos de “A Modern History of Japan: From Tokugawa Times to the Present”, por Andrew Gordon:
Continuar lendo “Honey Popcorn, pornografia e uma troca de culturas”