Eu tenho a memória pesada, testa de elefante. Trago todas as histórias por dentro e por fora, por isso todos correm com medo da derrota. A vida já me engoliu e cuspiu tantas vezes que hoje a tábula é rasa. Dante apontou prum mar de sangue fervente, canoas e barcos cheios adentravam desbravando toda a violência. Um bicho mecânico ergueu-se daquele sangue; meu sangue, teu sangue, nosso sangue. Triturou tudo como máquina, voltamos à margem.
Com o dedo na minha cara, o bicho disse: “faça tudo de novo e mais uma vez, do jeito que eu disse, do jeito que eu quero!”
Meu fracasso é só meu, então, é o meu querido fracasso. Encontrei um momento de ternura e amparo em algo somente meu, profundamente enraizado. Depois o bicho mecânico gargalhou e disse que o fracasso foi um presente dado. Só sentei em silêncio pensando o porquê de tanta servidão, então? Queria poder perguntar mais coisas, mas lá vem a vida devorar tudo de novo. Essa luta vai ter sangue que vai molhar da cabeça aos pés, essa luta vai abalar a confiança de seus fiéis.