Taylor Swift, Our Last Night e setembro amarelo

Tenho muitos assuntos a abordar neste espaço, mas ao mesmo tempo eu não estou conseguindo simplesmente parar, respirar fundo e organizar cada coisa em seu devido lugar. Dito isso, lá vamos nós mais uma vez para uma reflexão profunda, absorta e filosófica sobre o existencialismo contemporâneo pós revolução tecnológica. Brincadeira, não vou fazer ninguém aderir à prática da autoimolação enquanto enfatizo que somos todos uma puta cansada.

Invés do pseudointelectualismo que acomete nossa juventude programada para responder aos estímulos pernósticos ™ de cliques e filtros pomposos, engajando curtidas com a dádiva da nossa dose de dopamina de cada dia, eu venho oferecer-lhes a chance de bradar seus sentimentos mais ocultos, sombrios e até mesmo vergonhosos. É setembro amarelo e não vou dizer que “tudo bem não se sentir bem”, pois quero que chutem o balde sem cerimônias ao som de Taylor Swift.

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THE PLAYLIST

Anos atrás eu costumava gravar músicas em CDs para ouvir só comigo, mas um dia me pediram uns dos CDs e se tornou comum gravar playlists para terceiros. Era uma sensação ótima, ter pessoas pedindo para você fazer seleções de músicas. Creio que faz uns 15 anos ou mais, e ontem uma amiga pediu que eu fizesse o que fazia nesse grande intervalo de tempo.

Gosto e sempre gostei de indicar músicas, pois, como já havia constatado, possuo certa memória musical. Memória essa que te faz pensar estar num filme, cada canção, um filme diferente; então posso considerar que sou brega, cafona e toda a variedade de sinônimos por esta alusão. Bem como “I Need A Forest Fire” é atmosférica, não pude deixar de tentar criar certa ambientação ao longo de 10 faixas.

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7th Heaven, QUIÑ

Ultimamente tenho pensado quantas vezes sonhei nas últimas semanas, porém falho em lembrar ou enumerar. Eu sinto que boa parte do que sou é formada por um tipo de estado onírico de suspensão, onde nada se toca, coisa alguma tem cheiro ou gosto. Restam apenas duas alternativas: ver e ouvir. Como já disse, faz certo tempo que não vivencio isso e, com essa privação, entrei em absoluto êxtase ao encontrar QUIÑ.

QUIÑ, nascida Bianca Leonor Quiñones, é cantora, compositora e produtora afro-latina americana nascida em Los Angeles, Califórnia. Pode-se dizer que seus trabalhos transitam pelo subconsciente e até mesmo pelo universo, como uma catedral de arquitetura detalhista, mas que só existe ao fechar dos olhos.

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Fog, Nakhane

Eu estava pesquisando imagens quando este vídeo apareceu sugerido; assim, do nada. Deste modo sucedeu-se: cliquei, ouvi e a música continuou a tocar após se encerrar. E mais uma vez minha cabeça não está exatamente no lugar certo, provavelmente uma piada que o universo me trouxera a julgar pelo momento de frustração, tristeza e, como sempre presente, raiva.

Nakhane consegue expressar sua angústia de modo tão simples que me dói também. Uma névoa espessa escorre por sua cabeça e mesmo sem enxergar, ele diz tudo em tão poucas linhas.

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Fear Inoculum, TOOL e espiritualidade

Depois de 13 anos, TOOL finalmente retorna com “Fear Inoculum”, seu quinto álbum de estúdio. Embora o disco traga uma boa variedade de temas pertinentes, não há como ignorar a faixa título seguida de “Pneuma”, ambas canções carregadas de espiritualidade.

Quando decidi dissertar sobre, acabei indo para meu quarto, apaguei a luz, coloquei os fones nos ouvidos e dei início à escuta. Acabei adormecendo pela quarta faixa, lembro-me de abrir os olhos algumas vezes e pensar vagamente que eu não queria sair dali. Mais tarde, terminei de ouvir o restante das músicas e depois não parava de repetir “7empest” por alguns dias. Mas o curioso era que “Fear Inoculum” não cessava de ecoar em minha cabeça, muito menos “Pneuma” e, essa última, recorria a algo não muito claro no momento, porém agora tenho certeza: Alice In Chains.

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Light/Shadow of the Fearless, Hybrid

Um dia tudo passa. Pode demorar pouco, muito, mais ou menos. Mas eventualmente tudo passa. Quando me lembro das pessoas que conheci ao longo desses anos irregulares, sempre penso estarem felizes; passaram. De muitos não recordo mais os nomes, apenas traços e algumas cores, como num sonho. Creio que deitei para cochilar e acordei sem lembrar das particularidades, dos detalhes. Um dia eu estava arrumando a bagagem, dobrava roupas, escolhia objetos – hoje a mala nem serve mais; molhou, secou, estragou. As paisagens nunca desapareceram, deve-se carregar mais histórias que peso, porém às vezes é difícil entender o fardo e a consciência.

Datas se misturam e o peso nos olhos me faz debruçar na mesa e o relógio para. Ouço um carro passar longe, logo lembro novamente que tudo passa. Cruzo as pernas, ponho os braços já cruzados sobre elas, dedos entrelaçados. Silêncio. Há muito havia alguém comigo numa praça – hoje, minhas mãos nada seguram. Bancos, estátuas, árvores, outras mãos e risos passaram. Uma outra vez havia música, tocava pelo Antigo da cidade e ecoava pelas paredes dos vários bares. Era sempre tarde da noite, a madrugada passava entre luzes e sombras. E como todas as coisas precisam de equilíbrio, agora abri a porta para a luz adentrar o vão que o amargo das palavras deixou.

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Batuka, Madonna e origens

Madonna lançou recentemente o videoclipe para a música “Batuka”, com participação da Orquestra Batukadeiras oriunda de Portugal. Sua mensagem assombrosa e inspiradora surge nos primeiros segundos do vídeo:

“Batuque é um estilo de música criado por mulheres originárias de Cabo Verde, alguns dizem que seria o local de nascimento do tráfico de escravos.”

“Os tambores foram condenados pela Igreja e tirados dos escravos porque foram considerados um ato de rebelião. As mulheres continuaram cantando e dançando, e o Batuque vive até hoje.”

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Ashley O in your Area! (analisando HG)

Single novo de Miley Cyrus? Temos para hoje! Ops… quer dizer, da Ashley O. A personagem da nossa diva em Black Mirror também é uma grande superstar, e o videoclipe de “On a Roll” foi lançado nesta quinta-feira (06)! E para quem estava com saudades dos tempos da Hannah Montana, temos uma história quase parecida… na verdade, muito verossímil à vida de qualquer estrela pop mundo afora. Eu disse estrela pop? Perdão, cadela da indústria musical é o termo apropriado!

Com aquele toque futurista ao melhor estilo Black Mirror, vemos a “estrela” em um cenário cheio de luzes bastante coloridas. Nossa, eu tinha que mencionar o nome da série ao menos mais uma vez, não é mesmo? Assim posso descontextualizar todo o resto sem remorso! Outro detalhe à parte é o visual da minha musa, com o cabelo roxo característico da personagem e um look todo trabalhado no látex. Tudo isso somado às coreografias icônicas de seu balé. No caso, os méritos da produção são da série! Agora vamos à letra e o contexto que decidi ignorar, pois julgo a ambivalência de meus leitores ser particularmente rasa:

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[Garimpando] Vessels, Starset

Seria Starset a próxima grande fuga no Rock ou algo muito mais inebriante, se formos cartomantes para um mundo que avança tão rapidamente com a tecnologia que é capaz de prever a evolução futura dos relacionamentos e da humanidade como um todo? De qualquer forma, é bem evidente que Starset está construindo seu próprio caminho, tanto na música quanto na mensagem, evitando algumas catacreses familiares que seus colegas na cena musical parecem usar em grande medida.

“Vessels” é a segunda transmissão da banda, escrita a partir do ideal de um mundo onde as convenções de amor, vida e morte evoluíram, mas algumas das mesmas verdades permanecem. A conexão humana ainda está em plena exibição enquanto o mundo em torno dela muda, e o líder Dustin Bates junto a seus colaboradores mascarados Ron DeChant, Brock Richards e Adam Gilbert encontram uma maneira de infundir sua mensagem com atmosferas melódicas e um poder pulsante.

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Tied Up, Major Lazer feat. Mr. Eazi & Raye

Às vezes a boa música passa sem muitos alardes, talvez pela pressa do cotidiano e tantos outros afazeres, mas é gratificante quando damos uns passos para trás e cedemos alguns minutos que foram despercebidos. Mais gratificante ainda é desfrutarmos do que fora encontrado, tardiamente, porém com a calma necessária que não havia antes. Em um desses cenários, deparei-me com “Tied Up”, que veio como um descanso de tal rotina.

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