Saudade, Deadly Class

Eu estava com uma frase pronta, uma sentença elaborada pronta para se desenvolver. Então senti algo como um romper de cordas, um desligamento da eletricidade que passava de mim para, o que agora é, algum cabo de força arrancado. Pensei em escrever sobre música, tantas músicas para escrever, mas, novamente, veio a desconexão. Creio que minha concentração esteja um tanto deteriorada no momento, ou possivelmente sempre esteve. Certas coisas se distanciam e a lacuna para fazer sentido vira abismo, miragem, solstício no canto do olho.

Até que uma dessas coisas emerge por uma simples projeção de personagem. Quando assisti à primeira temporada da série Deadly Class, agora oficialmente cancelada, esperei por tudo – menos as tantas identificações que o roteiro me trouxe. O sentimento de revolta e inconformidade, a ânsia de pertencer e se permitir existir num tipo de família e a melancolia de viver numa realidade preta e branca, sem horizontes. No ápice de seus 10 episódios, encontra-se “Saudade” que, ao ligar o motor dum carro, engata numa viagem vertiginosa na qual as peças finalmente se reúnem para dar uma das mais belas conclusões até onde posso recordar.

“Uma sensação particular
que não sentia desde a infância,
desde que os meus pais estavam vivos.

Um amigo veio passar
o fim de semana.
E divertimo-nos muito.
Foi perfeito.

E, de repente, tinha acabado.
O meu amigo foi para casa,
e eu fiquei sozinho.
Sentado no balanço onde,
momentos antes,
tínhamos rido e brincado.

Tudo estava silencioso.
Uma queda súbita
da ligação sentida momentos antes.

Um fim pontuado
seguido da reflexão involuntária
sobre o que acontece quando a vida
passa de rápida a lenta.

E eu sinto-me confortável assim.
Aninhado na tranquilidade e paz
do resquício de inocência
que ainda tenho no coração.

Um rapaz pequeno,
sentado num balanço,
a ver o pôr do sol.”

Sem um encerramento para todos os arcos, aquele gosto amargo experimentado no último episódio em que a continuidade é interrompida, tudo se dissipa e volta a ter forma bem no meio, no monólogo de Marcus Arguello. Deadly Class, assim como sua trilha sonora, fará falta.

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